06 dezembro, 2013

A menina que roubava livros

Faz bastante tempo que eu li esse. Sinceramente, não me recordo com detalhes, e não sou de ler livros duas vezes (porque sempre tenho outros novos para ler, e, não gosto de frases feitas, mas a vida é curta demais para ler duas vezes o mesmo livro). Também sou do tipo de gente que se recusa a ver o filme quando existe o livro, portanto, não vou ao cinema assistir esse.

Gosto da lembrança boa que tenho deste livro. Foi, sem dúvida, um daqueles livros que a gente começa a ler e não quer parar nunca, e dá medo quando ele está acabando, porque é tão bom que talvez o próximo se torne uma decepção.

Ironicamente, eu "roubei" este livro do meu pai. Simplesmente peguei das coisas dele um dia, levei para a minha casa, e só devolvi muito tempo depois. Definitivamente, preciso comprar um exemplar para mim. É um livro cuja ausência na estante diz muito sobre a vida de leitor de uma pessoa.

Eu me lembro das frases. Muitas delas me marcaram muito.

O ser humano não tem um coração como o meu. O coração humano é uma linha, ao passo que o meu é um círculo, e tenho a capacidade interminável de estar no lugar certo na hora certa. A consequência disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser as duas. Mas eles tem uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer.

O primeiro livro, a menina rouba do coveiro que enterrou seu irmão. E logo depois de assistir à morte do irmão, a menina é deixada com uma família adotiva. A história, que envolve nazismo, judeus, fuga, é contada pela morte. Morte, com letra maiúscula, eu acho. A Morte.

Depois ela passa a roubar vários outros, e faz disso a sua profissão e o seu propósito de vida. Tira lições deles, e aplica à sua própria vida. E a Morte continua a observá-la e contar a sua história.

Lembro-me que a nova mãe era uma velha chata, o pai era um pintor, e tinha um amigo. Um melhor amigo, que ela gostaria que fosse seu namorado, mas nunca foi. Tem a tristeza e frieza de uma Alemanha em plena guerra, e o olhar de uma menina sobre tudo isso.

Não me façam feliz. Por favor, não me saciem nem me deixem pensar que alguma coisa boa pode sair disso. Olhem para meus machucados. Olhem para este arranhão. Estão vendo o arranhão dentro de mim? Estão vendo ele crescer bem diante dos seus olhos, me corroendo? Não quero ter esperança de mais nada.

Essa é uma das partes que não me esqueço. Tão eu... 

Adoro livros onde encontro coisas que eu mesma gostaria de ter escrito. É como se alguém, em algum canto, entendesse exatamente o que eu penso e sinto sobre alguma coisa, e que eu mesma ainda não consegui expressar em palavras. Eles expressam. E quando eu leio, penso: "era isso!"

Estranhamente, sempre achei que as pessoas "normais" não têm um coração como o meu. Já ouvi me falarem, mais de uma vez que eu sou especial. Acho que é isso que querem dizer: que eu sou diferente. E confesso que até agora, não vi muita coisa de legal em ser assim especial. Eu sou muito. Eu penso muito. Eu sinto muito. E, como não poderia deixar de ser, eu sofro muito.

Então, quando começa a ficar tudo tão legal, eu imploro. Por favor, não. Não me faça. Não me tente. Não me acredite. Não me sorria. Mesmo assim, quase ninguém me escuta ou atende. E fazem. E eu volto a acreditar em quase tudo que já não acreditava mais, para, daqui a pouco, perder de novo a crença. 

Uma definição não encontrada no dicionário
Não ir embora: Ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças

E mesmo depois de tanto tempo após ler este livro, me deparo, hoje, com este trecho. Porque eu decifrei o não ir embora, mas não era eu que tinha que ficar. Eu fique, ele não, eu chorei.

Eu continuo. Como a menina. Ou como a Morte. Depende do ponto de vista.

Queria roubar livros também. Todos. E me esconder num porão onde alguém pudesse fazer pinturas que eu não entendo, e observar a arte enquanto leio. Mas por hora, a guerra acabou. E ainda tenho muito outros livros para ler.


Qualificação do livro: 5 estrelas
Nível de recomendação: não espere ter tempo livre para ler este. Vale a pena ler sem tempo mesmo.




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